Alimentos industrializados, e sua relação com a vontade de comer mais.
O cérebro é mais do que a soma de suas partes nutricionais, obviamente. Cada componente certamente tem um impacto específico no funcionamento, desenvolvimento, energia e humor. Hoje falaremos sobre a relação com os alimentos ultraprocessados e a vontade de querer continuar comendo mais, e mais.
Todos eles têm em comum aditivos/conservantes a base de gordura, açúcar, e sódio, que servem não apenas para conservar por mais tempo, mas para realçar o sabor, tornando-os hiperpalatáveis, ou seja, extremamente saborosos.
Esses aditivos inibem ou estimulam demasiadamente áreas do cérebro (neurônios ligados ao sistema digestivo, por exemplo), provocando alterações em tecidos cerebrais. Dessa forma, os neurotransmissores da saciedade são bloqueados ou diminuídos, por isso aquela vontade de comer mais, e mais.
Comer demais, e de forma crônica, desregula os mecanismos hormonais e cerebrais de controle de apetite. Seja ao longo dos anos, ou no momento em que está literalmente comendo, o cérebro passa a não detectar os sinais da saciedade. É como se houvesse uma confusão nos receptores neurais, e eles ficassem confusos em como e quais informações sinápticas fazerem.
Depois que você faz uma refeição, o intestino produz um hormônio chamado uroguanilina. Essa substância age, de forma ainda não plenamente compreendida, sobre os rins, o coração e o próprio sistema digestivo. Ele também está relacionado à saciedade: é um aviso para o cérebro de que o corpo recebeu calorias suficientes, e ele pode cortar o sinal de fome, para que você pare de comer. A superalimentação estressa as células do intestino, que param de produzir uroguanilina. E, sem esse hormônio, o cérebro não dispara os sinais de saciedade. Percebeu? O consumo excessivo de comida, num período contínuo, os torna biologicamente incapazes de parar de comer!
Alimentos ultraprocessados têm o poder de fazer isso. Foi o que descobriram cientistas do Instituto Nacional de Saúde dos EUA. Eles dividiram 20 voluntários saudáveis, sendo dez homens e dez mulheres, em dois grupos por 15 dias. O primeiro grupo se alimentou de alimentos in natura, pouco processados (frutas, verduras, carne, peixe, leite, ovos, grãos), e podia comer o quanto quisesse. O segundo grupo também tinha essa liberdade, mas com uma diferença: passou os 15 dias comendo alimentos altamente industrializados, ricos em gordura trans, xarope de milho com alta frutose (HFCS) e todo tipo de aditivo. Depois das duas semanas, as dietas foram invertidas entre os grupos e o estudo prosseguiu por mais 15 dias. Os participantes fizeram a mesma quantidade de exercícios.
Em média, as pessoas ficavam satisfeitas depois de comer 2.600 calorias diárias quando estavam na dieta pouco processada – mas, com a alimentação industrializada, só paravam depois de 3.100. E isso também tem a ver com hormônios que agem sobre o cérebro. O estudo descobriu que, quando as pessoas estavam na dieta composta por alimentos in natura, tinham maiores níveis do hormônio PYY, que inibe o apetite, e menos grelina, hormônio que dispara os sinais de fome. O que você come influi diretamente sobre os mecanismos de controle do apetite.

Os alimentos ultraprocessados, como refrigerantes, biscoitos e salgadinhos de pacote, etc. São formulações criadas pela moderna indústria de alimentos, com pouco ou nenhum alimento verdadeiro e grandes quantidades de óleo, sal e açúcar, além de muitas outras substâncias. Essas substâncias são derivadas de constituintes de alimentos ou de outras matérias orgânicas e incluem amidos modificados, isolados de proteínas, soro de leite, gordura hidrogenada e todo o grupo dos aditivos químicos. Os aditivos usados na manufatura de alimentos ultraprocessados têm como função prolongar quase indefinidamente a duração dos produtos e torná-los tão ou mais atraentes do que os alimentos verdadeiros.
Além de ter um perfil nutricional intrinsicamente desequilibrado, os processos e ingredientes utilizados, levam a produtos que confundem o controle natural da fome e saciedade. Primeiro, porque são produtos que contêm grande quantidade de calorias por volume. Segundo, porque, sendo praticamente pré-digeridos e contendo pouca ou nenhuma fibra alimentar, são absorvidos muito rapidamente. Terceiro, porque são hiperpalatáveis. De fato, alimentos ultraprocessados são manufaturados para que sejam “irresistíveis”.
Eles são saborosos? com certeza! Gosta de comê-los? bem, se sim, o que é bem provável, pode comê-los, apenas faça com consciência. A consciência e o equilíbrio, é a chave para comer de forma responsável.
Fontes: https://super.abril.com.br/especiais/como-a-comida-controla-o-cerebro/
Alimentos ultraprocessados impactam ambientes e pessoas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU